Física
31/05/2012
Física quer mais espaço nas empresas
Dos cerca de 2.700 mestres e doutores em Física formalmente contratados pelo mercado brasileiro, menos de 300 atuam em departamentos de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) da indústria. A informação foi apresentada no dia 21 de maio, durante o evento Café da Indústria – A Física e o Desenvolvimento Nacional, promovido pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), em Brasília (DF). O dado faz parte de um estudo encomendado ao Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) pela Sociedade Brasileira de Física (SBF).Segundo a SBF, a meta básica do relatório é diagnosticar os desafios e apontar soluções para introduzir melhor os físicos e seu potencial inovador na indústria brasileira. “É um passo fundamental, ainda que inicial, para que consigamos alavancar essa relação tão importante para o futuro do País”, diz Celso de Melo, presidente da entidade.
Durante o evento em Brasília, o físico e assessor do CGEE Eduardo do Couto e Silva, que esteve à frente do estudo, detalhou o objetivo, a metodologia e os resultados do trabalho. “Por meio do cruzamento de dados sobre a comunidade de físicos – incluindo seu perfil, principais atividades e linhas de pesquisa – e as prioridades estratégicas de ciência, tecnologia e inovação no Brasil, chegamos a uma série de desafios que essa profissão enfrentará na próxima década, em sua relação com a indústria.”
O estudo sugere que há cerca de 10 mil físicos no Brasil, dos quais mais de 6.400 são mestres e doutores. Desses, 2.651 têm emprego formal, sendo mais de 70% em instituições de ensino e o restante (644) em outras empresas. “Infelizmente não constam nessa pesquisa dados e números sobre os bacharéis em Física atuantes no Brasil, devido à falta de um mapeamento sobre esse grupo pelas associações representativas e à ausência de Conselhos Regionais de Física que contribuam para isso”, justifica Couto.
Segundo os dados trabalhados pelo CGEE, dos mestres e doutores em Física contratados por empresas que não atuam na área de ensino, apenas 270 realizam atividades de PD&I. O restante (375) trabalha no serviço público (estadual e federal), na polícia, no mercado financeiro ou em departamentos de auditoria e fiscalização. “Esse grupo inclui profissionais que optaram por deixar as atividades principais da Física em busca de melhores salários e, também, aqueles em ocupação aquém dos conhecimentos que possuem”, esclarece o assessor do CGEE.
Para a diretora da ABDI, Maria Luisa Campos Machado Leal, esse mapeamento é essencial para um melhor entendimento da participação da Física nas atividades de inovação e de avanços tecnológicos da indústria. “São dados importantes, ainda, para darmos institucionalidade a essa temática e incluí-la da melhor forma nas políticas industrial e de ciência, tecnologia e inovação do governo”, destaca ela.
O potencial para a colaboração de físicos no desenvolvimento nacional é considerado bastante significativo. “Sinal disso é que várias áreas e setores considerados prioritários pelo Plano Brasil Maior e pela Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (ENCTI) se servem amplamente dos conhecimentos da Física, como tecnologias da informação e comunicação, defesa, petróleo e gás, bens de capital, saúde, bioetanol, mineração e metalurgia, aeroespacial, nanotecnologia, biotecnologia, mudanças climáticas, energia renovável, biodiversidade e oceanos e zonas costeiras”, elenca Couto.
“A ABDI vem realizando, desde 2006, um grande esforço para apoiar iniciativas de aproximação e interação entre academia e indústria, especialmente nas áreas de fronteira do conhecimento”, afirma Maria Luisa. Nos últimos anos, a Agência executou o projeto Talentos para a Inovação, que desenvolveu ações estratégias para a formação de recursos humanos com foco na ampliação da inovação na indústria.
No escopo desse projeto e sob coordenação de Evando Mirra e Rosane Marques, a Agência realizou 15 eventos e reuniões que resultaram nos documentos Talentos para Inovação: Engenharia, Física, Matemática e Química, e Talentos para Inovação na Indústria – Experiências Internacionais. No total, 24 instituições e 43 empresas de todo o País participaram das ações.
Desafios e recomendações do estudo
O estudo do CGEE inclui uma pesquisa que revela que 86% dos físicos consultados (1.422) consideram importante a interação com a indústria e mais de 70% apóiam que a SBF crie uma nova Comissão de Área, chamada Física na Indústria. Todavia, só 32% disseram conhecer bem essa temática e apenas 23% têm de fato envolvimento com ela em seu dia a dia.
“Essa pesquisa revela a importância da aproximação desses dois campos. Há um espaço a ser preenchido e há interesse em preenchê-lo. Agora, é necessário superar os desafios desse caminho”, frisa Couto. Entre os desafios citados por Couto estão: demonstrar as qualificações dos físicos às empresas, aproximar as sociedades científicas ligadas à Física, rever a formação dos físicos e estimular atividades de pesquisa em equipes multidisciplinares.
Para alcançar essas metas, o CGEE recomenda à SBF: estimular a criação de centros de excelência; criar um observatório de Física para a inovação; fazer uma autoavaliação periódica da Física brasileira; identificar o número de físicos nas empresas e sua titulação (incluindo bacharéis) e dos pesquisadores em instituições de ensino que realizam parcerias com empresas; estimular a participação da Física brasileira em programas internacionais de pesquisa e atividades multidisciplinares; criar programas de estágio nas empresas para estudantes de Física; e disseminar o potencial de empregabilidade dos físicos nos Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs) e nas empresas.
“Esperamos que a este relatório sigam-se outros, de forma que tenhamos subsídios para um planejamento estratégico efetivo e sempre atual para a Física brasileira, em favor do desenvolvimento”, finaliza o presidente da SBF. Para acessar o relatório completo do estudo A Física e o Desenvolvimento Nacional, clique aqui.
Esta notícia foi publicada em 29/05/2012 no site Brasil Maior. Todas as informações nela contida são de responsabilidade do autor.