Física
03/02/2016
Teoria matemática explica por que conspirações estão fadadas ao fracasso
Da BBCÉ difícil manter uma conspiração sob sigilo, afirmam cientistas, porque cedo ou tarde um dos conspiradores irá dar com a língua nos dentes.
Um estudo analisou por quanto tempo uma suposta conspiração pode "sobreviver" antes de ser revelada - de forma intencional ou não - ao público em geral.
David Grimes, da Universidade de Oxford, na Inglaterra, concebeu uma equação para expressar esse fenômeno, e aplicou a fórmula a quatro famosos conluios.
O trabalho foi publicado na revista científica Plos One.
A equação desenvolvida por Grimes, um físico que cursa pós-doutorado em Oxford, se baseia em três fatores: o número de conspiradores envolvidos, o tempo passado desde o evento e a possibilidade intrínseca de uma conspiração falhar.
Ele aplicou a equação a quatro famosas teorias da conspiração: a ideia de que a chegada do homem à Lua foi uma farsa, a crença de que a mudança climática não existe, a suposta ligação causal entre vacinas e autismo e a convicção de que companhias farmacêuticas esconderam a cura do câncer.
A análise de Grimes sugere que se as quatro conspirações fossem reais provavelmente já teriam sido reveladas.
Especificamente, o "boato" da conquista da Lua teria sido desmascarado em 3,7 anos; a "fraude" do aquecimento global, em 3,7 anos a 26,8 anos; a "conspiração" sobre vacinas e autismo, em 3,2 anos a 34,8 anos, e a "conspiração" do câncer, em 3,2 anos.
"Os métodos matemáticos usados nesse artigo são similares à matemática que usei anteriormente em minha pesquisa acadêmica sobre física das radiações", afirmou Grimes.
Construindo a equação
Para determinar sua equação, Grimes começou com a distribuição de Poisson, uma ferramenta estatística que estima a probabilidade de um evento particular ocorrer em um certo período de tempo.
Usando suposições e dedução matemática, ele produziu uma fórmula geral, mas incompleta.
Ainda faltava uma boa estimativa sobre a probabilidade intrínseca de uma conspiração falhar, ou seja, vir a público. Para determinar isso, o pesquisador analisou informações sobre três conspirações reais.
A primeira foi o programa de vigilância da NSA (agência de inteligência americana) conhecido como Prism. O programa envolveu, no máximo, 36 mil pessoas, e foi revelado pelo ex-funcionário da NSA Edward Snowden após seis anos.
A segunda foi o experimento sobre sífilis de Tuskegee (EUA), em que homens negros com sífilis ficaram sem tratamento de forma deliberada para permitir estudar a "história natural" da doença. A pesquisa envolveu até 6,7 mil pessoas, e o médico Peter Buxtun revelou o caso após 25 anos.
A terceira foi um escândalo no FBI (polícia federal americana), tornado público pelo médico Frederic Whitehurst, sobre erros nas práticas forenses da agência, que levaram à prisão e à execução de pessoas inocentes.
Grimes estima que até 500 pessoas possam ter se envolvido nas práticas irregulares, e que o escândalo tenha levado seis anos para ser divulgado.
A equação criada pelo físico representa o "melhor cenário possível" para conspiradores - ou seja, assume que os conspiradores são bons em guardar segredos e que não há investigações externas sobre seus conluios.
Juntando os pontos
Ao confrontar os números de três conspirações conhecidas, Grimes calculou que a possibilidade intrínseca de uma conspiração falhar é de quatro em um milhão.
Embora o número seja pequeno, a chance de uma conspiração se tornar pública aumenta com o passar do tempo e com a quantidade de conspiradores.
O "boato" sobre o pouso na Lua, por exemplo, começou em 1965 e teria envolvido cerca de 411 mil funcionários da Nasa (agência espacial americana). Com esses parâmetros, a equação de Grimes sugere que uma farsa sobre o tema teria sido revelada depois de 3,7 anos.
As missões tripuladas à Lua são objeto de conhecidas teorias da conspiração
Além disso, como a suposta trama já tem 50 anos, a equação estima que, para isso, no máximo 251 conspiradores estariam envolvidos.
Desta forma, é mais razoável acreditar que a conquista da Lua foi real.
Monty McGovern, matemático na Universidade de Washington, disse que os métodos do estudo "surpreendem por serem razoáveis e as probabilidades, bastante plausíveis".
"Embora acredite que seja difícil mudar a opinião dos convictos, espero que esse artigo seja útil para aqueles mais em dúvida sobre a possibilidade de cientistas perpetuarem ou não um boato", afirmou Grimes.
Esta notícia foi publicada em 01/02/2016 no site g1.globo.com. Todas as informações são responsabilidade do autor.